Continuamos atrás das grades
Aproximadamente 5% de toda a riqueza gerada no Brasil são gastos com segurança e com a violência. Algo em torno de R$ 200 bilhões, segundo estudo feito pelo Ipea, para suprir os custos pela criminalidade instalada no país. Em São Paulo, foram R$ 23,5 bilhões aplicados em 2011 e 2012 e, mesmo assim, não é possível encontrar alguém cuja sensação de insegurança não esteja presente em seu dia a dia.
A criminalidade cresce cotidianamente e, embora o governo estadual faça pirotecnia para comemorar a queda nos índices de homicídios, os números divulgados pela própria Secretaria de Segurança Pública de São Paulo mostram aumento nos casos de latrocínio. Assustados, já que latrocínio é matar para roubar, deixando-nos completamente vulneráveis a cada vez que colocamos o nariz pra fora de casa. Não tem jeito: esse é o retrato da falta de segurança que ronda nosso dia a dia. Por mais que o governo venha a público falar em números, a realidade das ruas é outra, e bem assustadora.
Estatísticas também apontam elevação nos crimes de estupros. Em 2010 eram 27 registros por dia; em 2011, foram 35/dia e no ano passado, salto para 35. A alta dessa violência sexual deve-se, segundo especialistas, ao uso crescente de drogas. É preciso, pois, que o governo deixe de lado tanto piriri-pororó, arregace as mangas e se empenhe pra valer para reduzir tais estatísticas. Latrocínios e estupros não são crimes cometidos por motivos fúteis, mas sim por crueldade de seus autores. Não basta confeccionar cartilha para orientar mulheres sobre como agir diante de um estuprador. Foi-se o tempo da célebre frase malufista ‘estupra, mas não mata’. Não é a mulher que deve saber como se comportar diante de uma situação dessa. É o governo quem deve agir antes que a situação ocorra e se consuma a violência.
Não, senhores, não dá para comemorar queda da violência. Porque a violência não diminuiu. Pelo contrário, está camuflada, pronta a dar o bote em qualquer um. Ontem (27/05) mais um dentista foi atacado em seu consultório e queimado por vermes da sociedade. Alexandre Peçanha Gaddy teria morrido queimado não fosse uma pessoa ouvir seus gritos de socorro e, a adentrar ao consultório da vítima, vê-la ainda em chamas. O profissional, com 60% do corpo queimado, está na UTI. Assim como o ocorrido há pouco mais de um mês com Cinthya Magaly Moutinho de Souza, que não resistiu, Alexandre foi queimado por ladrões ainda não identificados, irritados por não acharem dinheiro no consultório.
Hoje, quadrilha arrepiou motoristas na Linha Vermelha, no Rio de Janeiro, principal via de acesso ao centro da cidade. Eles foram obrigados a parar seus veículos e entregar aos homens armados os pertences que tinham em seu poder. Um deles foi sequestrado pelos bandidos. E isso a plena luz do dia e a poucos metros de um quartel da PM.
O crime é cíclico, conforme gostam de falar as autoridades. É verdade. Uma hora atacam taxistas, levando à morte muitos profissionais do volante; depois são os ônibus incendiados, só para dar um arrepio nos passageiros; aí vêm as explosões dos caixas eletrônicos, e agora os consultórios odontológicos. Os arrastões continuam em alta, ocorrendo, geralmente, em prédios de luxo e restaurantes da moda.
Com o ataque a mais esse profissional da Odontologia, qual deles, a partir de agora, se atreverá a permitir a entrada de um desconhecido em seu estabelecimento sob a alegação de dor de dente? Mesmo que seja verdade, mesmo que o rosto esteja inchado e a pessoa tenha expressão de dor, o profissional pensará duas vezes antes de abrir a porta.
Como dito acima a violência estão tão camuflada que o governo, absurdamente, instituiu um prêmio ao policial, batalhão ou corporação que reduzir os índices de criminalidade em sua área. Ingenuidade ou ignorância acreditar que, em busca do prêmio, não haverá homens do policiamento a descarregarem corpos em território vizinho? Anos atrás, embora não houvesse premiação em dinheiro, um delegado, para ficar bem na fita, obrigava seus plantonistas a não registrarem nos BOs crimes de homicídio. Na natureza do delito, eles tinham de colocar ‘morte a esclarecer’. Assim, durante meses figurou nas estatísticas da SSP como o delegado mais atuante de sua região, que conseguiu reduzir os números de delitos de morte na sua área. Conquistou sua promoção, mas sua artimanha foi descoberta depois e ele caiu em descrédito junto à cúpula da Segurança. Só camuflando, mesmo.