As prefeituras ignoram o pedestre. Quem pensa que a invisibilidade do transeunte (horrível essa palavra) por opção ou necessidade está prestes a terminar vai se decepcionar. Rumo ao sexto mês de gestão das novas administrações nada se falou do, talvez, mais grave problema das cidades: as calçadas. As armadilhas estão aí, prontas a engolir qualquer um (menos os políticos), tamanha a infinidade de buracos, degraus, rachaduras, ausência de lajotas, bueiros sem tampas e outros obstáculos existentes.
Qualquer pessoa tem uma história sobre tombos em calçadas, alguns resultando em tratamentos doloridos, demorados e caro, fora a consequente a inatividade produtiva temporária e até permanente da vítima. Levantamento feito pelo consultor de mobilidade urbana Philip Anthony Gold - que durante anos foi ombudsman da CET -, com base em estudo do IPEA, constata que só a cidade de São Paulo perde por ano quase R$ 3 bilhões entre resgate, tratamento, perda de produção e reabilitação por causa dos acidentes em calçadas. Quer se chocar diante da gravidade? Os acidentes no trânsito resultam em prejuízos de R$ 1,5 bilhão, metade dos gastos em pedestres acidentados. O Hospital das Clínicas atendem diariamente 300 casos. E não são só velhos que caem, não. Todo mundo está sujeito a um tombo feio.
Ah, mas a culpa é do proprietário do imóvel. Ele é quem tem de cuidar de sua calçada. Assim exige a lei. Mas cadê os fiscais? Qualquer prefeitura, se questionada, irá argumentar não ter efetivo suficiente para percorrer a cidade e imputar as multas ao infrator. Enquanto isso, danem-se os pedestres. Quem chiar que vá reclamar com o bispo!
De que valem essas cartilhas com diretrizes se o próprio governo municipal não cuida de seu espaço. Basta checar. Quem andou reformando seu passeio, deixou de lado a manutenção porque perdeu a eleição ou, se ficou, esqueceu-se da lição de casa. Quem entrou, pelo visto não circula pela cidade a pé.
Se há uma lei determinando de quem é a responsabilidade, mas não há fiscalização suficiente para exigir seu cumprimento, por que, então, o poder público não toma para si essa responsabilidade? Entrega essa tarefa para uma ou duas concessionárias. Ficaria até mais fácil fiscalizar essas empresas e puni-las em caso de mau serviço, não é mesmo? O que não podemos mais é ver tanta gente se machucando, optando por andar no meio fio e correndo, igualmente risco, nesse caso de ser atropelado. A cada queda que exija socorro e tratamento resulta em pelo menos R$ 3.800 saindo do sistema de saúde e indo direto para o ralo. Uma torneira jorrando recursos fora. Tão simples fechá-la e direcionar esse desperdício para outras áreas prioritárias, até mesmo na própria saúde.
Pedestre é economia ativa, não pode ser empurrado buraco abaixo. Chega de ser invisível, minha gente. Ele vota, paga impostos, existe e merece ser respeitado.
Já passou da hora de tirá-lo do limbo. Tanto se fala em mobilidade urbana, tanto se discute, mas, quem se locomove a pé está completamente esquecido.
Eu acho que... Está faltando vontade política!