O castigo da ganância
Neymar é o melhor jogador do futebol brasileiro. Todo mundo concorda. Mesmo quem não torce pelo Peixe fica maravilhado com a facilidade com que ele lida com a bola, com sua velocidade, sua técnica, criatividade, ginga e irreverência. Raramente se encontra um torcedor que não vislumbra um futuro de sucesso desse moleque, que encanta não só aqui, mas em todos os cantos do mundo. Em campos internacionais, Neymar tem agora sua grande oportunidade de ratificar toda sua categoria. E, particularmente, torço para que ele se dê muito bem. E, cá entre nós, era hora de sair da Vila. O time do Santos está caindo pelas tabelas, Muricy demonstra suas limitações para sair do nó tático em que se enfiou e o garoto, sozinho, já colocava seu talento em risco por não ter com quem jogar.
A despedida do craque dominou o noticiário nos últimos dias. A imprensa ficou de plantão à espera da definição do destino do garoto. E com as malas prontas para se somar a Messi, Iniesta e Xavi, o craque teve de se despedir de seu time de coração longe, bem longe, da Vila Belmiro e, principalmente, de sua torcida. Injusta e incompreensível a postura da diretoria do Santos que, de olho em faturar um pouco mais com a imagem do moleque, negociou o mando de jogo com uma empresa de eventos e mandou a partida para a fria Brasília, onde predomina torcedores de times cariocas. O Santos trocou R$ 6,9 milhões da bilheteria por R$ 1 milhão. Um negócio bem lusitano (perdoem-me, meus amigos portugueses). A ganância levou um tombo da bilheteria, aliás, a maior renda do futebol nacional.
A decisão da diretoria, aliás, fez seu craque se exibir pela última vez com a camisa do Peixe sob vaias. Torcedor injusto? Nada disso. No Brasil a torcida é 100% clubista, mesmo que fale abertamente considerar esse menino um craque, eventual herdeiro do futebol arte de Pelé. Tomara Neymar vingue lá fora e não se torne mais um Robinho ou Diego, que saíram daqui sob aplausos e lá desapareceram.
Mas, mudando a direção do olhar, do campo para o estádio, o Mané Garrincha mostrou que está longe da aprovação total pela Fifa. Houve quem fosse obrigado a ver o jogo de pé, porque a numeração do ingresso não batia com a dos assentos. O time do Flamengo foi obrigado a tomar banho com água fria. O torcedor, que não pagou barato o ingresso, teve de encarar fila de duas horas para entrar no estádio e outra minhoca humana para fazer xixi. Foi tudo muito complicado. Ainda dá tempo de consertar, mas tem de acelerar.
E mais um detalhe: vamos pensar melhor o preço dos ingressos, gente. Futebol é esporte do povo, que não tem condições de pagar R$ 100 a R$ 400 pelo bilhete. Sejamos ambiciosos, mas jamais gananciosos, pô!
Depois do Mundial, Brasília passará a ter mais um elefante branco sem utilidade. Afinal, prâ quê um estádio tão dispendioso, que consumiu milhões de reais, para abrigar jogos do Distrito Federal? Se analisarmos bem, o Brasil está jorrando fortunas na construção de praças onde o futebol mais curtido é visto pela televisão pelo torcedor, que tradicionalmente torce por times de São Paulo e Rio de Janeiro.