Foto/Reprodução
-- Ei, tio, podemos tomar conta do seu carro?
-- Quanto é?
-- Trinta reais.
O diálogo ocorreu entre o jornalista e apresentador do Mesa Redonda, da TV Gazeta, Flávio Prado, e um dos três marmanjos que o abordaram na frente no Museu do Futebol, no Pacaembu, dias desses. Flávio, que contou o episódio no programa de domingo à noite, disse que mal havia adquirido uma folha de Zona Azul (por R$ 3) quando os três grandalhões se aproximaram. Fazer o quê? Dizer não aos flanelinhas, pendurar a folhinha no retrovisor e correr o risco de, ao retornar, ter seu veículo danificado ou se submeter à extorsão? Óbvio, que Flávio Prado optou pela segunda opção, muito mais em conta do que arcar com o eventual prejuízo que teria se economizasse os R$ 30.
Absurdo, mas ele não é o único a ter cerceado seu direito de estacionar nas ruas de São Paulo e de qualquer outra cidade pelos tais flanelinhas, os donos do pedaço. Incrível é que muitas vezes eles ‘trabalham’ sob os olhares do pessoal do Trânsito, que se limita a dizer que nada pode fazer, uma vez que a fiscalização, diz, compete à Polícia Militar. Já a PM alega só poder agir em situação de flagrante. Só que esses extorsionários agem sempre longe da vista dos Pms (ou não?). E ai daquele que resolva encarar esses caras. Fim de semana um estudante foi morto a facadas por discutir com um flanelinha na porta da escola de samba Rosas de Ouro, na zona norte da Capital, onde ocorria uma festa de universitários. Uma vida por R$ 30!
As autoridades fazem vista grossa a esse tipo de violência a que estão submetidos todos os motoristas. Os flanelinhas são tão absolutos e crentes da impunidade que mesmo em ruas lotadas, principalmente em áreas de grandes concentrações públicas, sejam em shows, estádios de futebol, zonas empresariais ou em regiões de bares e restaurantes, são eles quem organizam o trânsito, providenciando o estacionamento (ilegal) em mão dupla, sobre as calçadas, em guias rebaixadas ou em cima da faixa de pedestres. E sob o olhar do pessoal do Trânsito. Há casos em que pedem ao vitimado motorista para deixar o freio de mão abaixado. Na região central da Capital, a ação deles está tão inserida no cotidiano que muitos trabalhadores chegam a deixar a chave de seus veículos (meu deus) nas mãos desses ilegais manobristas. Mal sabem eles que muitas vezes os ‘olheiros’ vão dar um rolê com o carro, seguros que o dono só vai aparecer no fim do expediente. Que absurdo, não é mesmo, mas isso é muito comum. Infelizmente.
O flanelinha, infelizmente, faz parte do DNA do brasileiro. Sujeito esperto, que leva vantagem e se acha mais malandro que o malandro. Não se contenta em intimidar; se for preciso está disposto a ir às últimas consequências.
O ABC não é diferente. Tente parar à noite no bairro Jardim, em Santo André. Ou na feira-livre de domingo em São Caetano. Mesmo com lugares para o estacionamento, as vagas só podem ser ocupadas se colocar a mão no bolso. Tem vezes que eles pedem o dinheiro adiantado. Mesmo que o motorista não seja abordado quando estaciona, pode ter certeza que na volta, o carinha estará lá, todo solícito, ajudando-o (???) a sair do local e com a mão estendida, à espera da propina. Se não pagar, tá marcado. Na próxima vez, tenha certeza, que achará alguns riscos no carro ou faltando algo em seu interior.
Pois bem. Fazer o quê: dizer não e ser morto? Dizer não e tomar um prejuízo inesperado? Os motoristas estão nas mãos dessas gangues, que, pela fiscalização inoperante dos órgãos competentes, continuam a deitar e rolar.
Eu acho que... uma centena de blitz, com a detenção de dúzias de flanelinhas (mesmo que eles não fiquem presos), intimidaria esses folgados e, gradativamente, poria fim a essa extorsão impune a céu aberto. Vamos, autoridades, passou da hora de agir. Um jovem já morreu por causa de uma discussão idiota de quem se acha o dono da rua.